terça-feira, novembro 20, 2007

Um dia diferente...


Hoje, uma terça feira que nasceu muito chuvosa, e tal como todos os dias cinzentos, provoca-me inconscientemente uma certa depressão. Mas hoje foi diferente, hoje dei a volta ao dia, e enganei-o de maneira a que não me conseguisse que as suas garras depressivas se cravassem no meu espírito. Mas não pensem que este meu síndrome de depressão é devido a outros factores que não o tipo e espécie de dia, eu fico desta forma devido à falta de raios solares a atingirem-me o frontespício (vulgo cara).
Acabei a minha primeira e única aula na faculdade, e hoje só tinha duas hipóteses, ou ir para casa enfiar-me em casa a deprimir-me devido à falta de luz do exterior, ou ir fazer qualquer coisa que me alegrasse a alma. E assim foi, agarrei no carro que desviei à minha progenitora, e dirigi-me para oeste em direcção ao grande mar oceano.
Assim que vislumbro o rio Tejo, sinto logo qualquer coisa a mexer cá dentro, mas uma sensação quase imperceptível. Chego ao melhor cruzamento, e que contém no seu interior uma energia das mais fortes geradas pelas várias correntes de água salina e doce, estou ao lado de Caxias a ver o estuário, e aí sim, de repente apodera-se de mim uma brutal energia invasiva, como se duas nuvens se tivessem afastado e deixado um raio de luz ser absorvido por toda a minha massa corporal. Mas quanto mais me aproximo do verdadeiro Oceano Atlântico, acontece, vislumbro as enormes vagas que se vão formando umas atrás das outras, parecendo tentar ultrapassar-se, atropelando-se umas às outras, tal é a sua ânsia de embaterem contra o areal e as rochas, para depois quase de imediato voltarem para casa tranquilamente.
O mar estava furioso, mas há sempre uns destemidos Homens que enfrentam estes animais em cima de tábuas e tratam-nas por tu. E foi exactamente o surf praticado nas praias da linha que deram por completo a volta a este dia tão cinzentão em que a chuva não pára de cair.
Fui para Carcavelos. Desci para o passadiço que percorre toda a praia e sento-me a vislumbrar tudo o que envolve este ambiente que eu tanto gosto, e que consegue alterar um estado de espírito de um momento para o outro.
Quando cheguei estava um crowd de cerca de 5 surfistas, mas passado o tempo começa a chegar cada vez mais gente. Uns já vêm equipados de casa, os que têm como previlégio este quintal, mas a maioria vai chegando de fora. Vêem-se miúdos a vestirem os fatos sentados nas suas motas, mas também reparo em malta de fato e gravata que vêm directos dos seus trabalhos para dar um toque neste estado de alma que é o surf.
As ondas estão um bocado irregulares e enormes, mas quando vêm grandes sets vê-se magia dentro de água. Tenta-se atingir a velocidade máxima em descidas verticais, tentam-e tubos, tentam-se manobras novas.
Depois de já estarem quase a fazer fila para entrar no mar pelo canal, e o crowd ter aumentado de 5 para uns 15, passa à minha frente um surfer quarentão, com aquele aspecto de ter passado a sua vida toda naquela praia, com uma prancha já antiga debaixo do braço, na outra mão um balde e ao seu lado a acompanhá-lo, um cão. Ele caminha até meio do areal em direcção ao mar, pára, e poisa o balde na areia enterrando-o ligeiramente, de seguida vejo-o a meter algumas coisas dentro do balde, o que eu imagino que sejam as suas coisas pessoais, que como é obvio não pode levar para dentro do mar. Este sujeito sempre acompanhado pelo seu cão, baixa-se dá uma festa ao cão, e encaminha-se cheio de energia para o tempestuoso oceano com a sua tábua, mas agora sem a companhia do cão. Este extraordinário animal, ficou exactamente ao lado do balde, sentado e a fazer "guarda severa" aos pertences do seu dono enquanto este está a praticar a sua actividade preferida.Imaginem um cão no meio de um imenso areal exclusivamente acompanhado deste tão precioso balde. Tive tempos e tempos a olhar para tão fiel animal, que nem quando outros cães e uma cadela o iam chatear e tentar distraí-lo ele largava o seu posto, no máximo dava uma corrida até aos outros cães mas voltava de imediato para junto do seu tesouro se estes se aproximavam e tentavam cheirar o balde.
Este foi o momento alto de hoje, este cão foi ensinado a guardar as coisas do seu dono no espaço preferido de todos os cães para brincar, uma praia. Este animal consegue concentrar-se no que está fazer (sem o dono estar presente) e resistir à tentação de ir correr e saltar por aquele enorme playground com os outros cães que o tentavam persuadir a ir com eles até ao mar, resistiu a cheirar o perfume das cadelas, e mesmo quando um enorme cão tentava ir marcar o seu território naquele singelo balde, ele fazia tudo por tudo para este nem o cheirar. Tudo isto em respeito e amizade ao seu amigo, que está dentro do mar descansado por ter em terra tão fiel e honrado companheiro.
Afinal os dias cinzentos são extraordinários, têm é menos luz para a tarefa de os descobrir ser mais difícil e interessante! Shibby

1 comentário:

Mariana disse...

já dizia uma música lamechas 'don't need the sun to shine to make me smile'